Neiff Satte Alam
O fracasso escolar - Parte I
Por Neiff Satte Alam
Biólogo, professor de Biologia e especialista em Informática na Educação
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O fracasso escolar não tem uma única causa, mas um conjunto de fatores que concorrem para que tal situação ocorra. Tão importante quanto resolver este problema é a conscientização de que é uma situação real, atual e que desestrutura toda e qualquer política pública que tenha conexão com o sistema educacional.
As evidências deste fracasso estão amplamente divulgadas quando observamos o dramático quadro de uma juventude que se entrega às drogas, de crianças dormindo ao relento e esmolando pelas esquinas, de superlotações de presídios, de violência familiar e dentro das escolas e de tantas outras situações de pura ação antissocial que preenchem os espaços dos jornais, rádios e televisões ou acontecem nas calçadas e ruas por onde passamos ao obedecer nossas rotinas de ir e vir pela cidade.
É evidente que não se pode atribuir ao caos em que se encontra a sociedade nas suas relações com a escola aos profissionais que atuam dentro destas instituições, mas, sim, a toda uma estrutura educacional "desalicerçada" de políticas públicas de Estado alinhadas aos interesses e necessidades da escola.
É natural que dentro da escola, com todas as adversidades que envolvem esta instituição, as coisas não ocorram como deveriam e isto têm que ser também objeto de análise e reflexão.
Professores no limite
Vamos iniciar pelo isolamento a que está submetido o professor dentro de sua sala de aula. Isolamento determinado pela carência de profissionais especialistas em educação, como é o caso, por exemplo, dos orientadores educacionais, que se constituiriam, então, em elementos de conexão entre os componentes da estrutura escolar e entre estes e as famílias dos estudantes. Um quadro melhor descrito das realidades de cada estudante permitiria aos professores trabalhar com mais eficiência as diferenças entre os alunos e alcançar melhores resultados, tanto no plano de ensino-aprendizagem como na complementação de uma educação que inicia na casa do estudante e se reforça na escola. O que se observa é uma utilização em caráter precário (desvio de função) de professores com outras habilitações, mas que estão sendo precariamente utilizados, desempenhando a função de orientador educacional e supervisor escolar. É natural que seus desempenhos não sejam de boa qualidade, mesmo que haja esforço e boa vontade, pois não são preparados para estas funções.
Pode-se perceber, então, que há uma deficiência estrutural da/na escola o que deixa o professor no front dos conflitos sociais do entorno da instituição escolar, transportados para dentro desta instituição. Aumentado o volume de responsabilidades e reduzido o seu poder de atendê-las, o professor termina por adoecer, como é ocaso da Síndrome de Burnout, que é o resultado de uma exaustão emocional provocada por estresse profissional. O termo burnout é uma composição de burn (queima) e out (exterior), sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço. A autoconfiança, o humor e a concentração atingem índices de redução extremamente comprometedores e fazem com que o professor pareça irresponsável e desinteressado por seu trabalho, mas na verdade está acometido de uma doença provocada por fatores externos e que não podem ser controlados por ele, pois a causa está em uma estrutura/conjuntura educacional, social e econômica, tendo que se submeter a atendimentos físicos e mentais, mas apenas nos limites de sua disponibilidade financeira.
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